A geração que estudou na USP nos anos 1970 já tinha ouvido falar de maio de 68,
quando explodiram conflitos políticos em vários países. Mas o “maio da ECA” acabou sendo o de 1975. Nossa colega Maria Teresa Fernandes sentiu na pele o clima de tensão, ao ser abordada, junto com sua família, por policiais e intimada a comparecer para depor no DOPS, o já então famigerado Departamento de Ordem Pública e Social.
Do episódio, Teresa guardou cópia de um documento enviado pela Secretaria de
Segurança Pública do Estado, relatando os motivos alegados para sua intimação, ao lado
de seis colegas (vejam o fac-símile). No texto, o órgão informou que o então secretário Antonio Erasmo Dias, coronel da PM, compareceu ao DOPS para uma “preleção” aos estudantes e a seus pais.
Relatando que no dia 4 de maio alunos se concentraram em frente ao prédio da Reitoria e
entregaram um abaixo-assinado pedindo o afastamento do então diretor da ECA, Manuel
Nunes Dias, o documento reproduz trechos da tal preleção, como este:
“Não fazemos isto tudo com o coração tranquilo, pois isto nos entristece, porém o
fazemos por obrigação, como um alerta, como brado de um pai que não gostaria que um seu filho, por má orientação tivesse o destino inglório de uma cova rasa, de uma masmorra ou de um desterro, a troco de uma ideologia utópica que até hoje não se provou compatível
com a alma brasileira...”
Teresa, que não tivera qualquer tipo de ação política na USP, a não ser o fato de ter
sido eleita para um dos cargos de direção no Centro Acadêmico Lupe Cotrim, da ECA, lembra do dia em que foi prestar depoimento no DOPS.
Ouviu que um dos motivos de ter sido chamada foi sua participação na AUN (Agência
Universitária de Notícias), criada pela profa. Cremilda Medina, do curso de Jornalismo, a
quem o delegado chamou de “comunista perigosa”.
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