"Não, ainda não!"

Por Fernando Zamith

Na festa dos 50 anos do nosso ingresso na ECA, alunos da Turma 1972 e os professores homenageados – Izidoro Blikstein e Cremilda – deram-se conta de afinidades eletivas. A começar pela idade. Nós, alunos, estamos já quase na faixa dos 70 e os mestres com mais de 80.

Não foi por acaso que, em sua emocionada fala de agradecimento à homenagem, o Professor Izidoro, 84 anos citou o filme “Madadayo” (1993), a última obra de Akira Kurosawa (1910-1998) que se baseia em história real do professor Uehida Hyakken-Sama (1889-1971).

Uehida lecionava língua alemã na universidade, quando sua casa foi destruída por bombardeio aéreo americano na II Guerra Mundial. Sem lar e com o país em frangalhos, ele abandona tudo para ser escritor e vai viver numa tosca cabana. Mas, os alunos não se esquecem dele. Sempre o visitam, ouvem suas histórias, bebem, cantam. De uma certa forma, conciliam aulas de companheirismo, lealdade e alegria.

No dia do aniversário do mestre, o pessoal se aplica em brincadeira tradicional e ritualística entre os japoneses. Como o esconde-esconde dos jogos de crianças, pergunta-se assim: "Mahda kai?" (Ainda não?). Essa é uma metáfora para indagar se é o último aniversário a celebrar juntos. E a resposta do velho professor é: "Madada yo!", que significa “Não, ainda não”.

Essa expressão dá título ao filme (“Madadayo”) e expressa justamente que o velho professor continuou jovem de coração, sua alegria ainda é vívida e a morte futura não é algo que se deva preocupar. “Não, ainda não” – responde a seus antigos alunos.

Há uma cena da cerveja (veja o trecho no link) que sempre é lembrada. Tal e qual, no almoço de 15 de outubro, que reuniu a nossa Turma 1972 e os professores Izidoro e Cremilda. Quem viu o filme de Kurosawa pode saborear melhor o trecho da fala do mestre Izidoro Blikstein, que remete à trajetória comum de todas as vidas.

Sabemos qual será o final da história de nossas vidas, mas nessa trajetória manter a vontade de viver e o humor é celebrar sempre a juventude que vive nos corações de quem já quase chegou aos 70 anos ou já passou dos 80.

VEJA O TRECHO DO FILME: