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Para não perder, outra vez, nossa rede de apoio

Numa palestra singela e memorável que Maurício de Sousa deu em 2006, ele contou como conseguiu ser aceito como cartunista, quando ainda jovem. Chegou ao secretário do jornal  com um arremedo de portfólio de seus primeiros rabiscos, que julgava talentosos, e disse que queria mostrar ao diretor da redação, para ter suas tiras publicadas. O secretário olhou para o garoto, viu seus desenhos, e sentenciou do alto de sua experiência: “Se eu lhe apresentar o diretor, ele pode até folhear seu caderno, vai ficar com seu contato, e vai lhe dizer que liga assim que houver vaga. Mas você nunca mais vai ouvir falar dele”. Mas, para sua sorte, o secretário tinha uma alternativa eficaz. “Por outro lado, há uma vaga de auxiliar de redação. Aceitando, quase que diariamente vai se encontrar com o chefe de redação na copa. Vai tomar cafezinho com ele; com o tempo ele vai aprender a saber quem você é. Aí, sim, você vai poder mostrar seu trabalho, e ele vai ver com outros olhos”. O final dessa história, além de provar que ninguém, exceto em concursos públicos, se projeta sem ser conhecido, consagra a importância das chamadas redes de apoio. 

Rede é anti-estresse e protetora

Rede de apoio social é definida como conjunto de sistemas e de pessoas significativas que compõem os elos de relacionamento recebidos e percebidos do indivíduo. Claro que esse conceito combina com a máxima de que “nenhum homem é uma ilha”. O apoio social é considerado importante dimensão do desenvolvimento, constituindo uma interface entre o sujeito e o sistema social do qual ele faz parte. O apoio afetivo é igualmente fundamental por ser responsável por imprimir qualidade às relações e contribuir para a manutenção dos vínculos. Assim, o apoio social e afetivo está relacionado á percepção que a pessoa tem de seu mundo social, como se orienta nele, suas estratégias, e competências para estabelecer vínculos, e com os recursos que esse lhe oferece, como proteção e força, frente a situações de risco que se apresentam.

Segundo especialistas, a rede de apoio contribui para o aumento da competência individual, que refoça a auto-imagem e a auto-eficácia necessárias para alcançar um objetivo.

A rede de apoio social é mais importante que um mecanismo puramente de influência. Está associada à saúde e ao bem-estar dos indivíduos, sendo fator fundamental para o processo de adaptação a situações de estresse e de suscetibilidade a distúrbios físicos e emocionais. Ela é dinâmica, construída e reconstruída em todas as fases da vida. O efeito protetivo que o apoio social oferece está relacionado ao desenvolvimento da capacidade de enfrentamento das adversidades, promovendo processos de resiliência e desenvolvimento adaptativo. Todas as relações que o indivíduo estabelece com outras pessoas, advindas dos diversos microssistemas nos quais transita, como famíia, amigos, escola, entre outros, podem assumir o papel de fornecer apoio.

Como a rede escorreu por nossos dedos

Como deixamos que um potencial de agregação e de grupo tão rico escapasse de nosso controle? É preciso, inicialmente, contextualizar a história. Estávamos nos anos 70, com a repressão política em sua temperatura máxima, trazendo com sua mordaça oficial o desestímulo à consciência de grupo. Apesar disso, no nosso caso, tempos micro-exemplos muito bem sucedidos de redes. A turma de Relações Públicas, por exemplo, manteve esse espírito, reunindo-se periodicamente para não perder o elo. Cresceram junto, compartilharam alegrias, trocaram apadrinhamentos, cultivaram amizades sólidas que perpassam pelas gerações que se seguem. O mesmo pode ser dito sobre as seis integrantes do auto-denominado “Intimex”, trupe de amigas que repartiram, mais que formações e papéis no palco, identificações na perspectiva de vida. Ocasionalmente, também, se pode notar alguns arremedos de redes, como a de colegas que, faz muitos anos, trabalham na mesma redação; ou de outra que, reconhecidamente, se mostra agradecida a outra por lhe ter apresentado tanto ao primeiro empregador quanto ao marido.

Qual é o espírito da coisa? Quem quer que se detenha sobre a qualidade dessas quase duas centenas de pessoas não tem dúvida da riqueza de suas trajetórias. O que antes era um bando de garotos bem dotados intelectualmente, ruma comunhão de sonhos e expectativas, agora vestiu mais solenidade e são experientes senhores e senhoras destacados em importantes postos profissionais, muitos  detentores de larga tarimba, patrimônio nas áreas que escolheram. Isso para não falar do todos aqueles que acrescentaram a seus currículos formações diversas em áreas como a saúde e a matemático-administrativa. Nesta altura, destituídos daquela vaidade própria da juventude, podem desfrutar com savoir-faire de tudo o que passaram, e permitir-se às trocas que tornam a vida muito mais saborosa e produtiva, tendo como base o mecanismo da amizade. Como se sabe, na vida tudo são trocas. Reencontrados, agora, os amigos vão poder tudo.

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