Verônica Kobata, bancária, acampando com Suely Farah, educadora, em 72
Naquele pré-histórico e bissexto 1972, enquanto a censura se ocupava proibindo cópias de “O encouraçado Potemkin”, a Polaroid revolucionada o mercado da fotografia , e era vendida a primeira TV em cores no Brasil, um bando de teens misturado com alguns marmanjinhos investia o futuro numa carreira na área de comunicações. Passados 37 anos daquela notícia de jornal, alguns alcançaram o status de autêntica celebridade pela mídia, como Walcyr Carrasco, Cacá Rosset e Líllian Witte Fibe. Outros não são tão conhecidos pelo público, mas cultivam prestígio enorme chefiando corporações, redações, estúdios, palcos, agências e meios culturais e intelectuais, fruto de talentos indiscutíveis e reconhecidos. E muitos se deram discretamente muito bem nas especialidades que escolheram. Mas nem todos os felizardos vencedores do vestibular do Cescea, como era chamado na época, acabaram seguindo as vocações iniciais. Quase quatro décadas decorridas, alguns viraram por completo a mesa. Fernando Carvalho, publicitário de formação, aposentou-se na área de recursos humanos, e hoje vive de tradução. Gesuelle Marton fez editoração mas acabou seguindo o magistério na área de comunicações e línguas. Glória Moota Lara fez também direito e trabalha com uma ONG a favor do direito das crianças. Direito também foi o curso escolhido por Angela Carbonari para formação intelectual, bem recentemente, e ela está adorando a experiência. Helena Lindenberg adicionou filosofia ao currículo, e trabalhou muito tempo como psicanalista. Ivani Meira, hoje Schleder, faz carreira na Receita Federal, assim como Eliana Berdugo. Para João Domiraci Paccez, a saída foi a imersão em administração e contabilidade; hoje é consultor e professor prestigiadíssimo na área. Alguns daqueles personagens florescentes que conviviam lado a lado conosco, em nossas classes de comunicações ou artes, criaram seus sonhos próprios e os perseguiram até a conquista. Foi o caso do casal Moacyr Fontana Júnior e Ana Luíza de Carvalho Matosso. Nos primeiros tempos, ao se conhecerem na ECA, já comungavam compartilhar de uma vida muito campesina, rural mesmo, ter a tal “casa no campo”. Hoje vivem felizes em Virgínia – não, não a do comercial de Marlboro –, mas a cidadezinha mineira, perto de Caxambu, num sítio charmoso. Criando gado. Maria Inês Villares, formada em cinema, também deu uma guinada parecida, e se voltou à pecuária. Na categoria extreme make-over, ou mudança radical, podemos indicar José Ricardo Cyrne, que é dono de pousada em Floripa, mas também José Roberto Freitas, que administra empresa de ônibus da família, e Carlos Massuyaha que, lamentando um pouco não ter concluído a ECA, tem trajetória muito bem sucedida na engenharia. Já invadindo a área da saúde, Marcelo Reple concluiu jornalismo no Rio de Janeiro antes de virar a proa da carreira para a Medicina. Hoje é ginecologista de muito prestígio. Outro jornalista que abriu suas fronteiras na área médica foi Clovis Naconecy, que se formou cirurgião-dentista e seguiu carreiras paralelas. Para Sonia Lemos, a complementação de sua vocação veio com o curso de Psicologia. Outra trajetória de aparente pouco nexo foi a do publicitário que acabou não fixando raízes na profissão, Carlos Alberto Villaça, que hoje se ocupa no gerenciamento de uma agitada clínica veterinária. Para o graduado em cinema, Ronaldo Boerngen, questões mercadológicas determinaram sua opção por se tornar professor de pedagogia. Rubens Gianesella é mais um que se arrepende de não ter ido até o fim nos cursos que começou – jornalismo e cinema. Acabou realizando arquitetura, que exerce em São José dos Campos. Em vertentes mais alternativas, temos ainda Ruth Toledo, que é terapeuta floral, tem empresa e mora nos Estados Unidos. Suely Farah fez letras, é pedagoga e há muitos anos milita na área de educação popular. Lucília Dias dos Reis (agora Rosenfeld) exercitou muito sua vertente inovadora, registrando patentes de jogos infanto-juvenis com temas ecológicos. As profissões mais comuns seguidas, por aqueles que não se inseriram exatamente na essência das carreiras oferecidas pela ECA, foram a de professor e bancário. Para muitos catedráticos, a mesma escola que lhes forneceu a graduação, na USP, foi o canal de repassar os conhecimentos adquiridos. Esse foi o caso de Fábio Melo Cintra (música), Fernando Scavone (audiovisual), Maria Christina Rizzi (artes plásticas).
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