A pedido dos participantes – e também para conhecimento de todos aqueles que não puderam estar presentes -, transcrevemos o “discurso” lido pelos colegas Anna Nery, Fabio Malavoglia, Carolina Negreiros, Fernando Zamith e Bira Castro durante a pequena e descontraída cerimônia, que marcou a festa de 40 anos da turma da ECA-72, realizada no Hotel Alpino, em São Roque. O ponto alto, entre vários outros destaques, foi a homenagem ao professor Dino Preti, que representou os docentes que nos prepararam na época.
O belo texto é do Clovis Naconecy. As fotos, da Cida Silveira. Acompanhem.
Houve uma vez cinco verões que se iniciaram especialmente agitados em 1972.
Normalmente, no Hemistério sul, os verões terminam no equinócio de outono.
Mas naqueles anos as estações se embaralharam com o painel político do país e, para muita gente, seguiram-se invernos intermináveis enquanto que, para outros, apesar de tudo, despontaram primaveras floridas, surpreendentemente iluminadas.
Naquele ano de 72, enquanto John Lennon padecia com um processo de deportação dos Estados Unidos, Richard Nixon era despejado da Casa Branca após o escândalo de Watergate.
Naquele ano bissexto como este que vivemos, os Jogos Olímpicos de Munique traziam à tona a face cruel dos atentados terroristas.
Muita gente em São Paulo lia o Jornal da Tarde, arrojado e corajoso, para saber, entre receitas culinárias, como o presidente Emílio Médici segurava com rédeas curtas a mordaça da revolução tupiniquim.
E muita coisa fervia na área das artes, das comunicações e do entretenimento.
Neste mesmo ano – quem não se lembra? – Emerson Fittipaldi ganhou seu título de campeão da Fórmula 1, Bobby Fischer e Boris Spassky digladiavam com cavalos e torres no tabuleiro das ideologias, e o Palmeiras era consagrado campeão brasileiro.
Ainda neste marcante 1972, a TV em cores começava no Brasil, assim como a primeira calculadora científica HP.
Os relógios digitais revolucionavam o jeito como a gente via o tempo passar, ao mesmo tempo em que Liza Minelli brilhava interpretanto”Life is a cabaret, old chum”.
Quase no mesmo instante em que Marlon Brando apavorava com a boca cheia de algodão nO Poderoso Chefão, um pequeno Michael Jackson não parava de cantar “Ben” nas rádios, entre sucessos do Abba, de Chico Buarque, e experimentações de Caetano Veloso.
Muitas dessas canções de sucesso naquele ano marcante vocês já estão ouvindo na seleção de Fernando Zamith, um jornalista de rádio aficcionado da música e da memória.
Neste mesmo 1972, um punhado de moleques tentava a sorte na área de comunicações e artes, e arriscava o vestibular na faculdade que era considerada a melhor e mais disputada do país.
A Escola de Comunicações e Artes da USP, ou simplesmente ECA.
A arte do encontro
Bem, depois da diáspora que a vida impõe implacavelmente a tantas amizades genuínas, nos reunimos gloriosamente depois de quase quatro décadas.
Nosso primeiro encontro, depois de 37 anos de ausências, foi uma concreção de emoções.
Certamente já está guardada a sete chaves como figurinha especial no álbum das nossas mais queridas memórias.
E viver é colecionar memórias.
Nossa vida é uma colcha de lembranças que vamos tecendo a cada instante, com o fio dos dias, com as linhas do tempo.
Mas lembrar apenas não basta.
É preciso aquecer a chama dos nossos afetos.
É preciso registrar nossas emoções e afinidades.
Arejar as memórias congeladas em fotografias.
Fortalecer a costura das recordações que nos aquecem e merecem registro.
E, por último, é preciso compartilhar. estender nossa colcha de lembranças sobre aqueles que amamos.
Porque nossa vida continua na memória dos que se lembram de nós.
E porque, afinal, existimos para sermos lembrados.
Todos têm uma história para contar.
E a vida de cada um de nós dá um livro.
Quando a gente se encontra, temos sempre a chance de compartilhar algumas páginas.
É o que certamente já estamos exercitando desde os primeiros instantes desse sábado.
A hora das Homenagens
Dos duzentos aprovados naquela ocasião, passado um turbilhão de 40 anos, 16 já foram para o andar de cima.
Desde nosso primeiro encontro, em 2009, o time dos etéreos ganhou o reforço de Maurício José Ielo, o que adorava cavalinhos de corrida. Saravá, Maurício.
Mas neste alegre evento de hoje, temos algumas caras memórias que gostaríamos de registrar.
A primeira diz respeito aos professores.
Como dizia Paulo Freire, não se pode falar de educação sem amor.
Nosso educadores, no limite de suas competências, forjaram muito do que somos hoje.
Emprestando outra citação, agora do poeta Ferreira Goulart, “educar é de certo modo transformar o animal humano em cidadão”.
Vamos nomear agora aqueles que já não estão mais entre nós, mas nos transformaram em cidadãos e, no final, queremos ouvir uma salva de palmas de seus alunos.
Alberto Gusik, André Casquel Madrid, Campello Neto, Carlos Reichenbach, Chico Botelho, Eduardo Leone, Egon Schaden, Felix Pulis, Fernando Peixoto, Flavio Queiroz, J. J. Moraes, Jair Borin, Luiz Celso Piratininga, Modesto Farina, Otto Scherb, Paulo Emílio Salles Gomes, Roberto Santos, Rudá de Andrade, Timochenko Wehbi, Virgilio Noya Pinto e Vladimir Herzog.
Além deles todos, muito especialmente hoje queremos fazer uma homenagem a um professor que permanece muito vivo, e ficou na memória de todos com sua maneira assertiva e sempre muito séria de transmitir seus ensinamentos.
O professor homenageado de hoje, que vai representar todo o corpo docente da ECA daquele período turbulento, saiu de uma votação aberta e espontânea entre todos os participantes do encontro.
Trata-se de um dos grandes professores e linguistas brasileiros, um dos introdutores da Sociolinguística no Brasil e pioneiro dos estudos sobre Oralidade e Análise da Conversação.
Graduado em Letras Clássicas, mestre, doutor e Livre-Docente em Filologia e Língua Portuguesa, foi professor da USP entre 1967 e 1995, ano em que se aposentou.
Desde 1995 leciona na PUC-SP orientando alunos de Mestrado e Doutorado em Língua Portuguesa.
Na PUC, esse professor obstinado atua nas seguintes linhas de pesquisa: “Análise da Conversação”; “Estudos do Discurso em Língua Portuguesa” e “Texto e Discurso nas modalidades oral e escrita”.
Leciona as seguintes disciplinas: “Variações Lingüísticas no Português do Brasil”, “A Gíria do Brasil”, “Língua Oral e Diálogo Literário” e “Análise da Conversação no Português do Brasil”.
É claro que vocês sabem que estamos falando do professor Dino Fioravante Preti, a quem vamos pedir uma estrondosa salva de palmas.
Vamos chamar agora o colega Orlando Barrozo, da Coordenação do Encontro, para fazer a entrega de uma placa de homenagem ao professor Dino Preti.
(O professor Dino agradeceu e, de maneira sábia e tranquila, contou sobre sua experiência na ECA, ilustrando o pequeno discurso com fatos curiosos que sua matéria proporcionou)
Palavras finais
Para encerrar essa pequena cerimônia, vamos chamar, representando a comissão organizadora, Carolina Negreiros.
Bem pessoal, como muitos de vocês já estava sabendo, com esse grande encontro de hoje, a Comissão Organizadora dos encontros Eca-72 considera que sua tarefa de agitadora, potencializadora e fomentadora das reuniões da turma foi absolutamente cumprida e concretizada.
A nosso ver, com especial felicidade.
Estamos absolutamente gratificados pelo que reunimos e cativamos.
Esperamos que, daqui pra frente, todas as sementes germinadas nos muitos grupos formados a partir da primeira reunião sirva de alento a vários outros núcleos de encontro.
E que o fato de a Comissão, a partir de amanhã, estar definitivamente dissolvida, não desalente a constituição de outros grupos que desejem assumir a tarefa.
De nossa parte, temos a dizer emocionadamente que, sempre que lembrarem de nós, e nos convidar para os encontros, teremos o maior prazer em comparecer e confraternizar com as novas amizades reaquecidas.
Boa festa a todos!
O professor Dino Preti, Agnes e Pedro Bigatto
Nossos entusiasmados intérpretes leem o discurso
Dino Preti, com a placa que recebeu, conta suas experiências aos colegas
Carol Negreiros corta o bolo de 40 anos
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