CRISTINA CAMARGO
Poesia pura. Belos depoimentos. Comunhão de sentimentos. Fazemos do tempo um bicho-papão. Pensamos que ele existe. Mudar de sintonia, de faixa, é muito fácil, em teoria. Só que sair daqui, do hoje – que é ficção, já passou – e pular para aquele momento, lá no ontem, às vezes machuca. É lá que estamos despudoradamente jovens, bonitos, saudáveis, famintos, sedentos, heroicamente inocentes no preparo da luta para a vida que ainda virá! Por isso, esse reencontro, mais que nostalgia ou curiosidade, foi um ato de coragem, ao nos dispormos a reencontrar nós mesmos. O peso de tudo o que foi sendo vivido, em tantos anos, e das solicitações do cotidiano costuma nos impelir ao futuro, essa outra, por enquanto, ficção. E, no entanto, em cada olhar ou abraço, estamos lá, os mesmos daquele momento. É que somos os mesmos. Todos, mesmo os fisicamente ausentes, mesmo os quase desconhecidos, na mesma sintonia atemporal. As realizações, os equívocos, as frustrações, os sucessos, os fracassos, tudo no olhar ou abraço cúmplice: seus sucessos e fracassos também são meus. Seus filhos e os filhos dos seus filhos também vieram de mim, colhem o que plantamos e os ensinamos a plantar. É, tanta gente não entra no mesmo barco (ou avião) impunemente. A travessia continua, com todos os embarques e desembarques. O reencontro foi só um gostoso e emocionante lembrete.
Comments