Com os velhos amigos Mauricio Scaf e Gigi e reencontrando Cristina Camargo
Alguns colegas lembraram de passagens ocorridas com Maurício Ielo durante a época da ECA, caso do Douglas Salgado. Outros, como Suely Farah, Sergio Alexandre Carvalho e Marcos Aidar, recordaram o Brancaleone que sempre existiu nele. O Gabriel Prioli guardou na memória o colega ativo e bem humorado, a quem chamou de “militante da utopia”.
Reproduzimos aqui alguns depoimentos.
De Douglas Salgado:Colegas, não conversávamos muito. Mas compartilhamos um momento inesquecível. Entrei com ele, o meu pai, e o dele, na sala do Delegado Silvio Pereira Coutinho (se errei o nome, agora não faz a menor diferença!) lá no DOPS, para sermos interrogados sobre a famosa Greve da ECA. Como era minha primeira vez, nem sabia como iria me comportar. Meu pai, menos ainda. Mas o pai do Maurício, assim que se inteirou do que se tratava, foi logo dizendo para o filho: “Se eu sei que você anda com comunista, vou te tirar da Escola.” Durante o interrogatório, que nos custou uma tarde inteira, Maurício consentiu que era filiado ao MDB. Ao que o douto dos porões concluiu: “Vejo, então, que o senhor é militante organizado.” Não fomos sequer algemados, mas, a pregação do doutor foi longa e visava, primeiro, conseguir algum nome da tal Comissão Coletiva da Greve. Não conseguiu nenhum. E, em segundo, intimidar os pais. O meu, completamente desligado desses temas, ouviu, ouviu, e lá pelas 17 horas, olhou ostensivamente o analógico em seu pulso, virou-se tranquila e inocentemente para o Dr. Silvio e tascou: “Sua palestra (sic) foi ótima! Agora, podemos ir embora que eu tenho compromisso. Ah, e tem mais uma coisa: meu filho ainda não foi lá deixar as digitais.” Acho que o delega também estava cansado. Nos liberou, e fomos todos embora pra casa. Quer dizer, meu pai não. O compromisso dele era com o Além. Espírita que era, tinha plantão na Federação Espírita da Rua Maria Paula, às 18 horas. Não sei se recebeu o Ielo. Não sou espírita, não acredito no Além, nem no Aquém. Mas se estiver errado, quando chegar lá, quem sabe eles estejam me esperando. Rindo. Um abraço para a família. E fico com essa minha lembrança de um cara engraçado e afável, mesmo diante do perigo. Mesmo na tragédia dos anos verde-oliva, houve momentos em que soubemos rir de um chefe dos esbirros.
De Marcos Aidar: Fiel às raizes, Ielo me contou orgulhoso naquele encontro de 2009, que juntara uma coleção com mais de 200 versões do hino da Internacional Socialista. Mas nos corredores da ECA, o que a gente cantarolava mesmo naqueles tempos de estudante, ele com um vozeirão inconfundível e sempre gozador, era o grito de guerra de Brancaleone e seu incrível Exército: “Branca Branca Branca! Leon Leon Leon!”….. Tchau Ielo!
De Gabriel Prioli: Compartilho com todos a tristeza pela perda do Maurício. E a alegria de ter convivido com o bom humor e a simpatia dele, nos melhores anos de nossas vidas. Foi um entusiasmado, incansável militante da utopia. Espero mesmo que “um outro lar” exista no além, para que Maurício pregue a revolução por lá. Ele não tem nada a ver com platitude e batas brancas angelicais…
De Sergio Alexandre Antunes de Carvalho: Foi uma grande perda para nós da turma de 72, era um companheiro ao mesmo tempo explosivo e bonachão, nunca soube como conseguia juntar dois comportamentos quase excludentes em um só. Mas demos muitas gargalhadas juntos e a canção do Brancaleone cantada estentoreamente ainda soa em meus ouvidos. Nossas perdas já somam o Mauricio ao Egon Heinz Mistfeld.
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